A enchente é algo fascinante para quem vê, traumatizante para quem vive. Ela chega sem pedir permissão. Das visitas, a mais indesejável. Toma conta da sala, cozinha, sem vergonha alguma. O tempo para prevenção é pouco. É preciso jogo de cintura e ouvidos grudados na rádio. Cada centímetro, cada hora, cada pingo.
A pressa aumenta. É preciso rapidez para salvar todos os móveis, tapetes e incontáveis objetos de decoração. Toda solidariedade é bem vinda. Depois de tudo salvo resta sentar e ver a água tomar conta dos antes encerados e limpos assoalhos. Nada a fazer.
Com a saída da intrusa, é preciso limpar e encontrar forças para retornar com toda a mudança para seu local de origem. E é aí que a surpresa acontece. Lembramos de objetos guardados há muito tempo. Revivemos histórias, momentos já esquecidos.
Certos acontecimentos são como a enchente: intrusos, rápidos. Nossa reação precisa ser igualmente ágil. Para isso não há previsões nem cálculos nas rádios. É preciso mudar. Recordações sempre vêm à tona. A vontade é de acomodar-se. Esperar. Mas aprender a "deixar para trás" é essencial. Olhando ou não para o que ficou lá trás. Mas, deixar para trás.

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