Entre tudo que vou levar da Universidade, o mais importante são as histórias: que vivi e ouvi, de professores e colegas. Uma delas, bem recente, contatada por Caco Baptista, professor de Sociedade e Cultura Contemporânea, me fez pensar por dias.
Uma pesquisadora decidiu reunir diferentes pessoas em uma mesma sala: doutorandos, estudantes de graduação, do Ensino Médio e das séries iniciais. O objetivo era simples: cada grupo deveria descobrir quantas patas tem uma centopeia.
Os doutorandos foram rápidos: encontraram um artigo de um renomado cientista na Internet, que afirmava, baseado em diferentes autores e pesquisas, a quantidade de patas de uma centopeia. Os alunos de graduação procuraram um professor do curso de Biologia, que mostrou um livro com a resposta, que imediatamente foi copiado no xerox pelo grupo. Os representantes do Ensino Médio, por sua vez, foram diretamente para a biblioteca, procuraram na Enciclopédia e copiaram à mão em um papel, frase sim e frase não, para não parecer cópia.
Todos já haviam voltado à sala de aula, faltavam apenas as crianças, estudantes das séries iniciais. Onde estariam? Imediatamente um barulho na parte externa da Universidade chamou a atenção de todos. Eram as crianças, espalhadas pelo gramado, olhos fixos no chão. Em instantes, um deles grita e sai correndo em direção à sala: encontrei! encontrei! Na mão, um pouco esmagada, uma centopeia, e da boca do aluno, mesmo sem conhecimentos matemáticos, a resposta: 20 mais 10 patas!
O questionamento é: quem aprendeu de verdade? Quem produziu conhecimento próprio?
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