
Para muitos, sinônimo de festa e champagne. Para poucos, sinônimo de melancolia e nostalgia.
Me incluo nos "poucos". Os "poucos" que procuram refletir, mesmo em meio a tanta entropia. Os "poucos" que a cada explosão colorida no céu, repensam erros e acertos, conquistas e perdas. Os poucos que têm medo de deixar para trás um ano inteiro, em breves dez segundos.
Simpatias não apaziguam minha gana em permanecer no mesmo ano. Começo a "rebobinar" cada passo, como se minha vida pudesse se resumir em uma fita cassete. Não quero esquecer um perdão, um eu te amo dentro do ano que some em poucos segundos. Não quero perder tudo que conquistei em irônicos dez segundos.
Por que sim, tenho medo do incerto, do futuro, daquilo que não é palpável. Prefiro o conforto, o igual, o correto. Principalmente, tenho medo de ter medo.
Confesso, guardo lembranças idiotas de anos anteriores, de pessoas já distantes, de amizades já desfeitas. O inimaginável se esconde em uma simples caixa. Pra mim um baú de recordações, um túnel do tempo, um resumo da minha trajetória. Muitos dos pertences só eu sei a explicação. Muitos dos diários só eu sei como abrir. Tudo aquilo é meu, intocável à passagem do tempo, intocável aos benditos dez segundos regressivos. De lá nada vai sumir, daquilo eu não preciso me desfazer.
Mas neste fim de ano não abri meu baú. Apenas usei roupa branca, pulei as sete ondas, tomei sete goles de champagne, contei os temidos dez segundos, dei um beijo no namorado e um abraço na família. Sei que qualquer pai de santo me crucificaria, mas sujar a praia com galinhas ou gatos pretos não é algo que me atrai muito.
Resolvi então, guardar um dos textos que mais gostei neste ano, e que diz muito sobre mim, aqui, em meio a todas as minhas fotografias.
Desta vez não me preocupei em tirar as teias de aranha das quinquilharias do meu baú.
"Porque sim eu tenho medo. Tenho medo que você descubra que o meu choro nem era pela história antiga ou pela decisão de ir deixar sozinha as coisas lá naquele apartamento. Porque sim eu tenho medo que você descubra que sou vulnerável e que sou falha, não porque senti saudade de outras histórias, mas porque vislumbrei que podia errar tudo igual e de novo contigo. Porque sim eu não quero errar tudo igual e de novo contigo. E eu tive ciúme sem nem mesmo saber se era você que eu queria. E inúmeras vezes eu tive mais que certeza que era você que eu queria. Porque você gosta de umas séries idiotas, canta umas músicas patéticas e faz umas caretas mais ridículas que as do Sérgio Malandro. Porque você tem um jeito de menino e uma pose de homem marrento que tem mais equilíbrio e coragem do que eu já tive na vida. Porque conversar besteira com você me diverte, me alegra, me anima... Porque conversar coisa séria com você me acalenta, me abraça, me apazigua. E eu morro de medo. Morro de medo de errar erros antigos e de outras histórias com você. Porque sim eu tenho medo. De perder o que a gente já tem. Que é muito mais do que a maioria das pessoas vão ter." Elenita Rodrigues
0 comentários:
Postar um comentário